A MENINA QUE EU ERA

Eu gostava de pertencer. Mas as vezes o coração dizia não, embora para pertencer eu tivesse que falar sim. Então congelava. Como equilibrar dentro e fora e ser amada mesmo sem corresponder a tantas expectativas?

Eu também era curiosa. Queria saber tudo sobre coisas que nem sempre têm respostas. Sobre a vida, os acasos, os porquês de estarmos aqui. Infinitos porquês.

Eu era uma boa amiga. Sabia ouvir, dar conselhos, acolher as emoções. E assim ajudava, me sentia querida e tambem útil.

Eu amava os animais. Eram meus companheiros de amor incondicional, tão profundo, de cavernas, sonhos e escuros luminosos, aconchegados de presença.

Eu dançava nas músicas, mas não gostava de me sentir presa pela técnica ou regras. Gostava simplesmente de fluir nas notas e transbordar de esperança. Música era refúgio, portal, encontro.

As mulheres que me inspiravam eram artistas de todos os jeitos. Faziam beleza com os dedos, encantavam com as criações, eram lindas e livres, e eu me deleitava observando. Sempre fui guiada pela arte, liberdade e beleza.

A menina que eu era ainda habita a mulher-anciã que sou. E por ironia do percurso, a menina hoje está mais viva do que outrora. Se na mocidade ela se escondia por medo e vergonha, hoje dança e rodopia.

A maturidade pode ser um belo manto de florescimento. Não é mais a semente que carrega a história por vir. Nem o broto ansioso por viver. Na maturidade, a flor apenas é, inteira, plena, sabendo-se efêmera e linda.

Que todas as mulheres encontrem suas meninas e dêem-lhe passagem. Porque a vida voa. E a porta precisa ser aberta. 🌻

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