O CÍRCULO POSITIVO

Fui arrebatada por dois amores: as Danças Circulares que me chegaram em 2007 e recentemente a Psicologia Positiva. Muito ainda falarei sobre isso, pois é um campo de conhecimento vasto, que quanto mais aprendo, mais me encanto. 

Mas para iniciar esta conversa, resolvi compartilhar minha visão sobre onde esses dois universos se encontram. 

É muito especial quando conseguimos integrar caminhos. Certamente você, leitor, já viveu situações nas quais aprendeu coisas diferentes que em algum ponto da jornada se tocam, conversando e trazendo maior clareza para a compreensão do seu percurso. Afinal, tudo está interligado, nós é que separamos por desconhecimento, imaturidade ou teimosia. Pois assim tem sido comigo, visitando e aprofundando-me nestas duas instâncias: uma nobre aventura que faz a vida dançar, apoiada na melhor versão humana que podemos imaginar. 

DANÇA CIRCULAR 

A Dança Circular é uma prática integrativa que nasce fundamentalmente no círculo, com as mãos dadas. Isso não é apenas um acessório, é a própria essência desta atividade. O fato de aprender novos ritmos, passos e gestualidades não é suficiente para traduzir o propósito desta proposta. Cada nova dança desafia, encanta, eleva. Mas é no círculo que mora o encontro. Dançamos no círculo para conhecer e expandir nossas capacidades individuais e assim evoluir coletivamente, enquanto comunidade. Transcendemos a estreita visão pessoal e a transformamos em uma individualidade plural. Este é o convite que as Danças Circulares nos oferecem. As mãos dadas com um objetivo comum (dançar junto) materializam o apoio tão necessário e urgente nos tempos atuais, nos relembrando o calor aconchegante do pertencimento. 

PSICOLOGIA POSITIVA 

A Psicologia Positiva é o estudo científico do funcionamento humano ótimo. Visa identificar e promover os fatores que permitem que os indivíduos e as comunidades prosperem. O movimento da Psicologia Positiva representa um novo compromisso por parte dos psicólogos pesquisadores de focar a atenção sobre as fontes da saúde psicológica, indo, assim, além da antiga ênfase na doença e nos sintomas. Essa definição foi tirada do Manifesto da Psicologia Positiva e foi pela primeira vez introduzida por alguns dos líderes das pesquisas nessa área, em 1999. Muita pesquisa e evolução aconteceu depois desta primeira definição, mas escolhi este primeiro passo para mostrar que na essência desta Psicologia está o compromisso de olhar para o ser humano a partir de sua potência e saúde em vez de olhar para a doença. Em outras palavras, a Psicologia Positiva volta a sua atenção para a melhor versão que cada pessoa pode manifestar nesta rápida passagem pela terra. 

O CÍRCULO POSITIVO 

Mãos dadas na roda, enquanto os pés se movimentam em passos lentos ou rápidos. A música embala a alma, as emoções assentam, a mente aquieta e o corpo dança. Neste mix de sabores que alinha todos os centros, acessamos estados de consciência e percepção até então desconhecidos. O que acontece? 

A experiência torna-se maior do que as palavras conseguem traduzir. Há um alargamento das possibilidades internas, tanto para aprender e vencer desafios, quanto no encontro com o outro, que sugere uma confiança e curiosidade desconhecida e refrescante. Sem mesmo compreender o mistério que nos envolve, acessamos, por alguns instantes, a nossa melhor versão. Este estado de bem estar surge a qualquer momento - no movimento ou na pausa - e pode permanecer ou escapar em um flash de desatenção. 

No círculo positivo, visitamos a semente da nossa humanidade. Percebemos no olhar dos outros o valor de amar e ser amado, a alegria de pertencer, a beleza de ser compassivo. É neste círculo positivo que encontramos versões de nós mesmos tantas vezes esquecidas, soterradas pelo tempo ou por críticas e medos que nos distanciam de quem verdadeiramente somos. Ele funciona como um campo invisivelmente potente que convida nossas forças e virtudes para se manifestarem de forma gloriosa. E assim sendo, conectamos e expandimos nossa capacidade de co-criar o mundo que sonhamos. 

EMOÇÕES 

Eu vivo as Danças Circulares desde 2007. Sempre senti isso e nunca soube explicar. Ao conhecer a Psicologia Positiva e a Neurociência, compreendi porque a Dança Circular é tão inacreditavelmente mágica, real e transformadora. 

A Psicologia Positiva prova em seus estudos científicos o poder das emoções positivas. São estas emoções que impulsionam a nossa capacidade de lidar com crises e desafios, ou apenas apreciar um singelo momento de beleza. As emoções positivas nos energizam, inspiram, motivam, gerando entusiasmo, ousadia, força de ação, conexão e esperança. Além de auxiliar no aumento da atenção, consciência, memória e retenção de informação, seus resultados são muito mais benéficos e significativos para nossas vidas. E o que sentimos em um círculo positivo? 

Quando entramos em um círculo de Danças Circulares sentimos inúmeras emoções positivas: amor, alegria, paz, esperança, compaixão, gratidão, empatia, aceitação, entusiasmo, felicidade. Estas emoções afetam o olhar, a expressão facial e impulsionam as pessoas a querer abraçar e sorrir. É como acender a luz que nos habita e enxergar o melhor que vive em nós e nos outros. 

TOQUE 

No livro "Os mitos da felicidade", a autora Sonja Lyubomirsky, nascida na Rússia e professora no Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, explica que o poder do toque funciona como um medicamento: "Estudos mostram que um simples toque pode ativar regiões de recompensa em nossos cérebros, reduzir a quantidade de hormônios do estresse em nossa corrente sanguínea e mitigar a dor física por meio da diminuição da ativação das partes do cérebro associadas ao estresse. Estas descobertas implicam dizer que o contato físico é praticamente um medicamento". A pesquisadora Sonja dedicou toda a sua carreira para estudar cientificamente a felicidade e trouxe enormes contribuições que podem clarear muito do que vivemos nas experiências de Dança Circular. 

PENSAMENTOS E MINDFULNESS 

Quando adentramos com nossa presença plena no círculo positivo, em muitos momentos conseguimos atingir um estado meditativo, no qual nossa mente acalma e os pensamentos automáticos e repetitivos diminuem. Observamos nossos movimentos internos e externos com maior clareza, focando na ação de aprender o passo, vivenciar o ritmo coletivo e fluir com a música, a dança e seus convites. Podemos dizer que é frequente entrarmos em um estado de Mindfulness, ou seja, de atenção plena intencional, focando na experiência do momento presente, com uma atitude de aprendiz, aberta, não julgadora. Os benefícios deste estado mental são inúmeros. A Neurociência tem estudado profundamente o Mindfulness nas últimas décadas, com a realização de mais de 4.500 estudos científicos que apoiam a importância desta prática. Dentre os inúmeros benefícios do Mindfulness, podemos destacar:  melhora da concentração e cognição, regulação emocional, diminuição da ansiedade, prevenção da depressão, redução da dor, mudanças positivas no cérebro, estímulo da criatividade, redução da pressão sanguínea, melhora da memória. Quem dança ou conduz grupos de Danças Circulares há anos ou décadas sabe, através da experiência vivida, que todos os itens acima mencionados, e muitos outros, são constantemente citados por pessoas que praticam Danças Circulares com regularidade. 

Assim, podemos afirmar sem medo de errar que a Dança Circular é uma prática integrativa que gera frequentemente emoções positivas e estados de Mindfulness. Isso não é nenhuma novidade para quem dança há bastante tempo. Mas a contribuição está em saber que nas duas últimas décadas a Psicologia Positiva, a Neurociência e os estudos de Mindfulness deram um salto significativo com relação à Ciência da Felicidade e do Bem-Estar. Nós, das Danças Circulares, temos muito a aprender sobre isso, integrando vivência e conhecimento, para expandir com mais qualidade e intencionalidade esta prática tão bela que arrebata corações, cura tantos males e transforma dor em amor.    

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