Não precisou de mais do que 10 minutos. Algumas verdades se revelam em segundos.
Mas foram naqueles minutos, quase dez da noite, quando abriram a janelinha logo após o parto natural da minha filha, que eu vi.
Apesar do vidro que nos separava e de toda a excitação que permeava o corredor do lado de cá (dos familiares ansiosos), o lado de lá estava vivendo uma dimensão completamente diferente. Eu podia sentir o milagre invisível da vida, borrado de sangue na materialidade do corpo.
Lá, o tempo estendeu o agora e fez o espaço expandir o aqui. Eram dois mundos, separados por uma parede invisível .
Eu tive o privilégio de testemunhar, enquanto a gratidão transbordava em lágrimas, uma orquestra harmônica criando a música do nascimento.
A médica regia a equipe em perfeito flow. O estado de presença era quase palpável, gerado por ela e expandido por todos, em qualidade de olhares e encontros. O clima era de confiança, celebração, conexão, acolhimento e muita, mas muita competência.
O sorriso aberto da minha filha guerreira, por ter conseguido um parto normal depois de uma cesária, me mostrava a imensa força que a habita.
A emoção do meu genro, brilhando seus olhos grandes em plenitude desconhecida foi a chave para eu compreender.
Alí, do outro lado, eles estavam entre céu e terra, no exato ponto onde o corpo e o espírito se alinham em um só caminho.
O corre-corre tantas vezes esconde o que importa. São tantos compromissos e demandas que o sagrado se traveste de mundano. E assim o essencial passa, desapercebido.
Mas não naquela noite, ah não! Em 07 de março, lua cheia de peixes, a vida ocupou todo o ar daquela sala de hospital. Os corações dançaram ritmados. As duas voltas do cordão umbilical que limitavam o movimento foram remodeladas para a liberdade.
Naquela noite, diferente de todas as outras noites, o canto do sagrado se revelou em melodia. Nascer é puro milagre!
Eu vi, chorei, honrei, sorri e agradeci.