VULNERABILIDADE

Ser vulnerável, na grandeza do céu e na profundidade do mar.
Nunca me prometeram um jardim de rosas, mas às vezes, por ironia ou ternura, esqueço. Não quero mostrar-me nua para mim, com a ferida aberta que chora sua dor de criança.

Tenho o impulso de agir, em rebeldia ao silêncio que grita. Não deixo espaço para ouvir o que as palavras escondem.
Não quero ser vulnerável por medo de sucumbir, ou por vergonha de ser simplesmente humana.

Mas ela chega, sem pedir licença, em momentos de lembrança de pele que acionam aquela dor. Aquela. Tão familiar e antiga. Aquela. A dor que sempre esteve no âmago do ser, fingindo outras faces, dançando novos ritmos, travestida de nova, mas sempre a mesma.

Ser vulnerável é redenção. Longe de acomodar a dor, abraçamos seus tons tingidos de cinza, deixando-nos absorver pela sutileza dos perigos. É perigoso ser vulnerável. É corajoso ser vulnerável.

Quando me sinto só, tão somente eu sem a casa dos outros para morar, sou vulnerável.

Quando sou ninguém para quem eu gostaria de ser mais do que alguém, sou vulnerável.

Na tristeza da incompletude, no vazio do abandono, sou vulnerável.

Na dor da exclusão, quando sinto claramente que não há lugar pra mim entre os que amo e me importo, sou vulnerável.
Quando não entrego o que promete o amor que anseio, sou vulnerável.

Sou vulnerável porque existo em humanidade acordada. As portas fechadas que me escondem pelo medo da imperfeição ou da rejeição me aprisionam. Ao abri-las, vagarosamente e urgentemente, ouso adentrar em uma nova trilha, com pedras brilhantes que machucam e ao mesmo tempo reluzem.

Ser vulnerável é dor com liberdade, medo com coragem, aceitação com ação. Me entrego a esta escolha no teatro da vida. Primeiro ato: humana.

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